Gravações submarinas do rio Tietê e bolhas artificiais. Composição para o Primeiro Encontro de Parafísica, no lançamento do livro de Vilém Flüsser e Louis Bec.
Três exemplares de foram pescados ultimamente no mar da China. Isto não basta. São necessárias explorações ulteriores das profundidades. Das profundidades oceânicas, e igualmente das que se escondem na nossa interioridade. Tais abismos escondem, sem dúvida, segredos mais espantosos que os descobertos no cosmos. Sem dúvida: tais explorações vão sendo empreendidas constantemente, e são equipadas de instrumentário de mais em mais refinado. Mas o que é preciso fazer é coordenação das expedições exploradoras. [...]
O mundo no qual vivemos tem a simetria de espelhos contrapostos. Tudo em tal mundo se reflete. Tal simetria é consequência do estar-no-mundo humano. O homem se reflete no mundo, e o mundo no homem, e este vai-vem de contraposições refletidas é a própria realidade humana. Pois isto implica não apenas que os abismos “externos” são reflexões dos abismos “internos” e vice-versa, mas implica igualmente que os abismos refletem o explorador e o explorador os abismos. De maneira que não apenas todas as expedições, venham elas de não importa o local, vão ultimamente esbarrar contra Vampyroteuthis, mas igualmente vão esbarrar contra si próprias. Vão encontrar Vampyroteuthis, e vão encontrar-se em Vampyroteuthis. É que ele habita todas as nossas profundidades, e nós habitamos ele. E este encontro de si próprio no outro extremo do mundo é o derradeiro propósito de todas as explorações humanas. Porque, “no fundo”, o único tema do homem é o homem. A existência do Vampyrotheutis é retorção que visa a abrir-se para o mundo. Se para os homens o espaço é extensão inerte sustentada por esqueleto interno cartesiano, para ele o espaço é tensão retorcida sustentada por concha em espiral externa. Se para os homens a distância mais curta entre dois pontos é a reta, para ele a distância mais curta é a mola que faz coincidir os dois pontos quando retraída. Em consequência, sua geometria é dinâmica: ele não pode ser platônico, mas sim orgástico; sua atitude não será a da contemplação filosófica, mas sim a da vertigem filosófica.
Gravações da Torre Castelo em Campinas, composição para três violinos de Valinhos, edições sobre "All Along The Watchtower" de Bob Dylan na versão de Jimi Hendrix. Instalação multimídia "Ícone" que transformou a Torre Castelo em uma Watchtower com videomapping do Bijari com uma gama enorme de vídeos das últimas tomadas do espaço público em prol de uma democracia real e participativa, que não estão sendo noticiadas pela grande mídia. Esta mesma mídia junto ao poder público tenta desinformar a população local sobre o ocorrido na praça, dizendo se tratar de um fato estético. Seguimos buscando uma sofilopsiquia da economologia: ecologia das diversas economias subjetivas e suas implicações físico-sociais. Postulação científica do lucro como crime e da dívida como produção ilusória da culpa social que leva à escravidão plutocrática. Uma estratégia de ação complexa que possa iniciar a sanar um problema cultivado por escravos que sofrem desde o útero de menticídio generalizado. Seguimos questionando a cartografia cibernética de todas as cadeias de produção, transmutação e reciclagem integradas para iniciarmos a vislumbrar uma valoração real dos produtos e estabelecermos metas de subsídio mínimo a toda humanidade. O resto é espetáculo.
Gravações do mar de Athenas e da Baía de Paranaguá e colagens com "La Mér" de Claude Debussy, "Como Una Ola de Fuerza Y Luz" de Luigi Nono, "O Mar do Níger" de Almeida Prado, "Água de Beber" de Baden Powell. Trilha para o filme "Amor Fati" de Marcelo Munhoz. Fati amor.
Trilha sonora para a dança site specific "Plano Inclinado" da cia. Vitrola Quântica no CCSP. Ao final da composição ser tocada, mil e uma bolas de gude são derrubadas na rampa. Gravações de bolas de gude e água em rampas, síntese em hípershepard.
Observai tais animais lógicos
em seus abraços formais
ocultam metais em seus sangues
e cálculos oblíquo dos poros
se entranham ao detoque
in vertem-se juntos
à decadencia do plano
inclinado à consistência da rupção
que gresta a descendência
diagonia do geotema infimétrico
quando, desgarrados
buscam ao abismo
onde atiram-se olhares
para que não vejam
a vertigem da vertigem
reverenciando morte
ou à esquiva, ou...
desejos galopantes
cinenumese patomática
e contra a gravidade dos fatos
descem ainda mais acima
distendendo o axioma
caídos de joelhos
ainda inconhecem
as exferas
aharmonia das
quedas
nos afeta
não saímos destes que só
nos expulsam
como se debatemos
as dimensões numa ram pa
ponte fractal que é
Atirem Galileo ao fogo das bruxas
ao calor de Deus e à flama da cidade
ao mesmo que ao número dos sóis
que nos obrigou ao desabrigo
chuva de mundos, contas gudes
cristais bolhas de sabão
Sete gravações da reforma do Theatro Mvunicipal de São Paulo entre 2008 e 2010 e cantorias de um operário fazendo desde o baixo até o soprano em falsete. O operário se olha no espelho e vê atrás de si o patrão, passa a ouvir muitas vozes sairem de sua boca.
A bicycle, also known as a bike, pushbike or cycle, is a human-powered, pedal-driven, single-track vehicle, having two wheels attached to a frame, one behind the other. A person who rides a bicycle is called a cyclist or a bicyclist. They are to be hunted such as open software hackers, poets, art errorists, non-generic lovers and other kinds of consume misbehaviours.
Aos burocratas da cultura, intelectuais da música e funcionários de museu,
Agora, já realizada a obra, enfim, posso revelar-lhes uma primeira superfície do que se trata OvO. Nós queremos o silêncio, mas este insiste que berremos...
O PROCESSO:
“Nossa intenção é afirmar esta vida, não trazê-la à ordem do caos nem tampouco sugerir melhorias na criação, mas simplesmente despertar à vida mesma que estamos vivendo, o que é tão excelente uma vez que se consiga tirar a mente e os desejos da frente do seu caminho e deixar ela agir por si só.” –
John Cage
No início de 2009, bailarinos me perguntaram quando, tendo trabalhado por mais de dez anos com música e processos de educação de escutas com dançarinos clássicos e contemporâneos, eu comporia uma peça de dança. Dias depois sonhei com William Blake dançando com Rimbaud sobre uma esfera (hoje eu diria se tratar do Museu da República em Brasília) e despertei com a idéia da dança que gostaria de realizar, uma história da iluminação contada pelos corpos de um casal de amantes na vida real (Daniel Fagundes e Julia Rocha) fazendo os papéis de Som e Escuta.
Daí surgiu o impulso do projeto “Iluminações”, que foi enviado a pedido do Ibrasotope para sua realização no festival Conexões Sonoras. O projeto consistia em um casal de dançarinos dançando 46 minutos num ambiente hiper iluminado refazendo em seus corpos a história da relação humana com a luz, a escuta humana da luz. Se dividiria em três atos: nus (com referência às personagens dos textos de iluminações de Blake Inocência e Experiência) contando desde a escuridão até a invenção da luz elétrica, com roupas que refletissem cores (caleidocorpos que remetem às Iluminações de Rimbaud) contando a hiper iluminação contemporânea, e no breu da luz negra se desnudam de novo (A luz dentro da luz da qual fala Niels Bohr) contando sobre a luz da escuridão.
Posteriormente, com a pré-produção do festival tendo decidido a escolha do MIS como espaço de apresentação em detrimento do CCSP, os problemas começaram a aparecer. O espaço não dispunha de iluminação teatral, o que inviabilizava o projeto “Iluminações” desde a base. Ao mesmo tempo, o relacionamento do casal de dançarinos se desfazia. Decidi, utilizar-me de uma imagem alquímica suscitada por Blake no terceiro livro iluminado (Urizen) onde um ovo era chocado de dentro do vulcão que caberia perfeitamente com a sala oval do MIS que não estava sendo utilizada. Pré-agendei a utilização da mesma com a produção do MIS (Bete).
Devido à mudança na direção do MIS e a interesses políticos desta transição, os espaços agendados pelo festival Conexões Sonoras foram realocados para uma mostra de aniversário da Folha de São Paulo. Realocação antiética que fora noticiada pelo próprio jornal como salvação de um museu abandonado ao hermetismo tecnológico. De fato, o MIS havia passado seus últimos anos como centro de uma pequeno grupo de artistas, fechado à atuação pública de diversos projetos de mérito inconteste que havia conhecido em espaços fora do país. Não se questiona aqui a validade das obras previamente apresentadas no museu, houveram também grandes apresentações e instalações.
A completar o quadro de dissolução do projeto “Iluminações” por hora, o casal se separava e eu perdia meus bailarinos. Em paralelo a isto, o iluminador Paulo Fávero não havia me dado nenhum retorno favorável ou não à sua participação, o que me levou a contatar o iluminador da ópera de Manaus com quem já havia trabalhado Moiszes Vasconcelos. Paulo agora me ligava dizendo querer participar do projeto e eu tive de dispensar Moiszes.
Com todos estes acontecimentos, decidi por manter somente o essencial da obra e mudar seu foco. Mudei definitivamente o nome do projeto para OvO e decidi dividir o dinheiro dos dois bailarinos entre 7 performers de diversas áreas, de maneira a ampliar minhas ‘conexões sonoras’. Passando do âmbito do casal para o do grupo, se mostrou inevitável, que alguns aspectos da obra fossem radicalizados. A nudez se tornou aspecto de toda a equipe e o tempo de duração da obra seria estendido a doze horas de modo que trouxesse à tona sutilezas da vivência acima das questões propriamente luminosas, que ficaram a cargo da sonorização, num estudo até, para uma possível execução futura de “Iluminações”. Da representação bidimensional da história da iluminação passamos a uma vivência do silêncio que a iluminação propõe à escuta.
As transformações do projeto não foram capricho ou falta de precisão na atuação, mas necessidades impostas por problemas que transcendem o compositor. Não fossem realizadas estas mudanças a obra morreria. A produção do festival e do museu foram notificadas das mudanças do projeto e não fizeram nenhum tipo de crítica às mesmas, com exceção à nudez. Porém, como o projeto havia sido aprovado com a nudez dos bailarinos pelo PROAC (talvez por falta de leitura do mesmo), tiveram de consentir.
Os encontros com a equipe geraram uma série de questionamentos sobre o papel desta intervenção e as especificidades contextuais da obra OvO. O descaso com a arte, os problemas sociais, os deveres autorais e o desvanecimento do ego do criador demandaram-nos um abandono de nossos desejos estéticos em prol de um gesto coletivo simbólico dentro das instituições musicais e do museu. Textos e chamados para a tomada pública do museu foram redigidos. Já não se tratava de uma obra minha, mas de um obrar coletivo de abertura do campo da arte. Grandes artistas da dança, do teatro, da música, da poesia, da filosofia e tantas outras áreas compareceram ao OvO, de modo a participar com suas delicadezas desta tomada pública de um museu que seu próprio diretor havia dito se tratar de ‘abandonado’.
Um dia antes da apresentação uma trompa d'água trouxe uma estrela de anis à concha aural de minha orelha enquanto meu corpo submergia na banheira da casa de uma amada, acordei com uma dor no ouvido direito... O médico zen da Lapa disse que meu tímpano estava tåo inchado que parecia um coraçåo, me receitou uma tríade de panacéias... E a fragilidade da escuta, o valor de sua delicadeza se apresentaram como cerne da obra toda. Então pensei nas tantas escutas poéticas que não conseguem sair de suas dores e talvez o músico, ouvido da raça, seja senão parteira de escutas num mundo sem aura.
Durante as montagens da instalação do OvO na sala do nicho onde fomos alocados, levamos comidas e bebidas com apoio dos funcionários do museu e da produção do festival, que disse que talvez eu só teria de tirar de meu pró-labore o valor do vinho posto que a prefeitura não aceitava tais como parte da produção. As comidas poderiam ser debitadas da produção, posto que seria impossível um processo de doze horas sem alimentar os participantes.
Os técnicos se prontificaram a seguir as regras da obra para auxiliar na montagem do som no espaço e com tudo pronto, pudemos apagar as luzes gerais com duas horas de atraso. O processo seguiu sem problemas até que uma reclamação de uma senhora que queria saber o que ocorria dentro do OvO, mas que se negava a cumprir a nudez, foi registrada pela polícia sob alegações de ‘satanismo e orgia’. Que fique explícito que os artistas de renome que convidamos a se manifestarem no OvO em momento nenhum atacaram as propriedades do museu não destinadas à obra, cerca de 150 pessoas passaram pela obra e mais teriam ido se não houvesse sido cortado no meio.
O museu agiu com intimidações pseudo legais de telefonemas de seu advogado sobre a produção do festival, que conteve o processo de terror psicológico sobre os participantes do OvO. Obrigaram-me a assinar um termo onde eu dizia que eles desconheciam o teor da obra, de fato desconheciam, porque não acompanharam seu processo devido aos problemas políticos do museu e sua transição de direção. Três reclamações técnicas foram alegadas para estas perseguições (posto que a nudez e o esoterismo inerentes à obra não podiam): a comida (que propusemos pôr na rua, mas eles não aceitaram), velas e incensos acesos por pessoas do público (que apagamos quando pedido) e vinho (que era bebido somente pela personagem da porta que simbolizava Dionísio). Às 16 horas a policia autuou um grupo de visitantes por estarem vestidos de negro carregando um frango depenado adentro do museu, sob alegação de desordem. Às 17 horas, o museu impediu a entrada de público na obra. Diversas vezes os artistas foram interpelados de maneira grosseira pelos funcionários do museu ao andarem pelas dependências do museu cantando ou sorrindo dizendo que ‘a performance só podia acontecer dentro do OvO’. Aquilo que era um espaço de delicadeza, queriam converter em uma prisão ou cativeiro e às 19 horas e 30 minutos, eu decidi por finalizar com o trabalho e aceitar a censura imposta de maneira covarde sobre nós, de modo a evitar problemas para os organizadores do festival ou para os participantes, que temiam a entrada da polícia no local.
Venho por meio deste demonstrar meu repúdio em relação à forma como a instituição artística, em especial do Museu da Imagem e do Som, tem atuado sobre a arte e exigir um pedido de desculpas pública por parte do museu para com todos os participantes-atuantes de OvO e demandar que isto nunca mais ocorra em instituições públicas de arte.
REFLEXÕES ANTERIORES À OBRA:
“Disse o Céu: Eu abraço aquele trono que é Unu, e eu mantenho guarda sobre o Ovo de Nenek-ur.” –
Livro dos Mortos Egípcio.
Como se iniciam os processos musicais (escutas artísticas) nas pessoas e nas comunidades? Quais as conexões sonoras que a música traz a uma comunidade aural, como se dá a composição de um escuta?
Cada gesto é um selo. Esses selos são combinados para fechar o ovo do céu, segundo os Dogon. Quando a chave é ligada ao ovo, este é aberto. Este ovo é esvaziado, enchido com intensidades (energia, em vez de ondas ou partículas, em termos da física). Nesse ovo havia os germes da nossa realidade objetiva, ainda não percebidos, um reservatório de porvires. Quem veio primeiro, o evolucionismo ou a criação, o verbo ou a luz, a dança ou a música? Como pensar uma escuta desde seu princípio (ab ovo)?
Em todos os níveis o ovo regenera, semente animal. Virginal, incorpora as qualidades de ovulação, o poder de tornar-se desenvolvido durante a fecundação. Útero, caixa acústica ideal que preenchemos com o ruído do rompimento que é nascer. Sal (matéria corpórea), mercúrio (som vibração) e enxofre (luz transcendência enérgica) botado (não jogado, mas precisa e delicadamente colocado) no espaço tempo.
A intuição lógica, esta poesia da ciência ativando o canto silencioso da dança, sussurros de números que se encontram na última dobra antes da superpopulação simbólica, um transbordamento andrógino do que anima pelo indizível, um é muitos através da divisão sinérgica.
Depois de rachado o ovo, não há como rejuntá-lo na irreversibilidade do tempo espaço, mas novos ovos podem ser gerados.
A METODOLOGIA:
“Se há um outro mundo, ele está aqui mesmo. Se há felicidade, ela parte desde aqui, desde agora.” – Cântico Órfico
Existe um segredo pertencente à escuta? Seria a música a desvendá-lo? Como partilhar um modo de escuta delicado em meio à incessante produção cultural de mais-música como mais-ruído? O problema central da obra está exposto. A inteligência não pode ir além dele; ela percebe isso e volta-se para si mesma, dobra-se sobre suas próprias forças, sobre suas próprias pretensões. Ela fixa seu fundamento. Ao se questionar sobre o mistério, ela o faz impotente. Como estabelecer uma metodologia dinâmica e fluida apriori que não formatasse ao pensamento a composição de uma escuta (e não de um objeto sonoro ou de uma trilha musical)?
Metodologicamente, me nego à divulgação do conhecimento adquirido durante este processo para a ciência sonora e musical. Posso somente indicar, novamente, que a pesquisa fotofônica e de retroacústica aplicadas a campos muito amplos e diminutos (notadamente quânticos e estocásticos) dos qualias sonoras geram estruturas hipertonais através de polimicrosintons.
Entrando numa espiral desde a entrada do museu, um labirinto na entrada do espaço dá vazão a uma ante-sala negra de sacos de lixo que têm numa sala de restos de tecidos crus na vertical sobre um piso de feltro amarelo que seriam jogados no lixo. Alguns tecidos cobrem a exposição de infográficos da Folha de São Paulo. O OvO era um ouvido dentro do museu, um espelho oval, almofadas, aquecedores, cobertas, forno. A escuta adivinha um labirinto na desordem, presume uma coincidência significativa no encontro fortuito. Pressente o silêncio do instante. Entreouve alguma coisa que a ofuscaria. Muitos não passarão daqui.
Ora, é preciso coragem para cair no abismo que é o ouvido. Cedo ou tarde, cada um começa a entender, mais ou menos bem, esse falar obscuro que murmura nas coisas, a ler aquela escrita secreta espalhada desde os poros até as estrelas, a espuma do mar e o suor dos corpos, a pôr a mão no fogo flamejante existente em nosso mais obscuro interior nos dizendo que tantas palavras só somaram no grande depósito de lixo que somos. Atravessando este medo dos próprios defeitos, nosso lixo ao espelho; ultrapassando esta escuridão de si podemos encontrar nossas delicadezas nuas. As distintas camadas gestam o espaço oval, que distinto do si circular já apontam para a conexão com outras dimensões do encontro. Vivemos num campo onde luzes e trevas duelam. As luzes ofuscam: nada se vê; as trevas confundem: nada se vê. Como enxergar? Qual a razão dessas luzes? E essas sombras? Por que esse jogo de branco e preto? E de onde vem a felicidade de reconhecer estas coisas? Os acontecimentos se sucedem em ciclones, os seres passam em rajadas.
OS PACTOS:
“Não trabalhamos com o sistema operacional cultura, mas com código aberto.” – Filantropöv.
Dois pactos fundam a escuta proposta no OvO: nudez e silêncio. Os riscos de qualquer pacto são imensos, instauram um esoterismo. E cada um o pressente bem. Vê-se as reações exaltadas dos adversários como dos partidários. Ao pronunciar a palavra ‘esoterismo’ todos despertam. Alguns se escandalizam, outros se entusiasmam. O esoterista vai ao âmago do homem para se encontrar e reencontrar o mundo. Existe algo que entusiasme mais e mais gere inveja nos que não participam do pacto? A escuta é um esoterismo, onde somente outras escutas íntimas são aceitas. Na ciência pode haver controle do som, na religião (e a música é uma) é necessário crer, quanto à escuta em seu mistério, ela ocorre ou não. A escuta não é uma questão de conhecimento ou de fé, ela age e atua. Qual a necessidade destes pactos para a escuta destes sons internos ao OvO? Isto eu não posso dizer.
OvO é uma próera (ópera interventiva) que propõe uma modificação da questão “Qual o sentido da arte, qual seu valor?” para “A arte tem algum sentido?” Isto é admitido aqui, rejeitado ali. A primeira questão é, então, formulada da seguinte forma: pode-se falar de arte (da escuta)? Em outros termos, a noção de escuta da arte é válida ou inaceitável? Trata-se de uma idéia, um conceito ou uma farsa? Trata-se de metafísica ou de uma fábrica de mistificações? De que lado da filosofia ela se encontra?
A desconfiança do surdo em relação ao ouvinte é radical, se apóia na realidade de suas limitações. Não se pergunta se a escuta (fragilidade da sensibilidade artística) é isso ou aquilo, mas se ela é ou não é, e caso seja ela pode ser? Podemos classificá-la como alucinações e devaneios? A suspeita geral dos não-artistas adota desde o início uma atitude feroz. Não se trata de adversários como nas guerras de ideologias políticas, mas de exterminadores diante de culpados. A deliberação se transforma em acusação. Quando se fala com um matemático, critica-se uma demonstração ou uma hipótese, jamais a matemática. Não se inicia uma troca de opiniões políticas partindo do pressuposto de que seu interlocutor seja louco. Em teologia, cada um admite que as crenças se opõem, que vão falar de demônios, do céu, de milagre. Em filosofia, as noções confusas são acolhidas com benevolência. Na cultura artística, porém, não. Basta falar a palavra ‘arte’ e explodem os escárnios (mesmo entre artistas): charlatanismo, alucinação, delírio, retroalimentação megalomaníaca do gênio, pseudofilosofia estética. O que acontece com a arte então? Por que aqueles que a deveriam escutar se recusam ao debate? O adversário da arte – e a maioria dos administradores de arte e curadores o são – reflete-se indagando “Esta idéia é conveniente?” Ele adquiriu um universo de conhecimentos e de métodos que atuam sobre a própria arte o tempo todo. O adversário da arte é contra o pacto sensorial público, porque precisa manter as idéias de produtores e consumidores separadas de modo a manter a hierarquia entre compositores e ouvintes. Parafraseando Einstein, assim como a religião é o antídoto a qualquer experiência religiosa, o museu é o antídoto a qualquer experiência artística.
A NUDEZ:
“Uma música experimental, demanda uma vida experimental.” – John Cage.
Chegamos a um estado tal de inversão de valores sociais, que a vestimenta se tornou a regra e a nudez um crime. O artifício tomou o lugar do natural, tal como a música suprimiu qualquer possibilidade de escuta. A arte não trata de vestir, iludir, de consolar, mas de trabalhar, tocar no ponto essencial, penetrar o secreto de cada um, se o secreto ainda existir. “O iluminado” – dizia Blake em uma de suas iluminuras – “que quebra o pescoço tentando voar é mais nobre e mais fraternal do que o engenheiro que tenta provar que o homem jamais voará.”
Dentro do OvO somos somente escutas, sem nomes, corpos ou rostos.
O SILÊNCIO:
Silêncio do mundo, brutalidade dos homens, eis, sem dúvida, a experiência primeira que temos da ‘realidade’. Mas se a natureza silencia, sabemos que ela está lá, nas pedras, nas plantas, com suas chuvas, suas auroras. Silêncio do mundo. Esse silêncio oprime nosso peito. A cor do fruto não diz ao nosso corpo faminto se ele está ou não envenenado. As estações não nos ensinam a reencarnação das almas. Os pássaros cantam sem transmitir nenhuma mensagem. O trabalho hexagonal das abelhas e suas danças heliocêntricas não nos aconselham em nosso atuar social. Os planetas traçam desenhos sem falar de letras. Quem pode admitir, entretanto, que a natureza se reduza a um amontoado de átomos em movimento, sem significado? Mesmo o mundo não tendo nenhum sentido, o homem se coloca incessantemente diante desta questão, em silêncio. Não terá este questionar sobre o sentido algum sentido?
OvO é um desejo de ir ao fundo da escuta que cada um tem do mundo em busca de seu sintom (sintonia e sintoma de seu modo de afinação sonora, ruidística e musical) e de lá lançar-se para as extremidades do audível através da acusfera. Indagar se os seres têm em si, e no todo, um sentido para enfim enxergar a covardia das musicologias, a crueldade insana dos estilos até compreender, até se reconhecer, até descobrir nos limites da maldade de cada doce canção, na brutalidade insana das possibilidades de soação, outros modos de escuta. O vulcão é ouvido sob as cinzas. E para recusar esse silêncio do mundo, para entender sua linguagem (esta música maior que a música), é necessário praticar o silêncio; e para recusar esta violência da humanização plena de todo som é preciso praticar uma certa violência ruidística, resistir às ideologias, frear o pensamento em proveito da meditação, opor à força o não-agir, ao saber o disparate, ao útil o esplendor. O não-agir não é inação, mas contramovimento, equilíbrio sobre um ouvido só, o disparate não é ignorância mas apreciar o essencial e negligenciar conscientemente o saber pelo saber da arte pela arte; o esplendor não é belo, mas irradia de si mesmo, ‘vem de si mesmo’.
Se a escuta se separa ou opõe à cultura musical, de que modo ela se exprime, em segundo grau, como poderá se exprimir? A escuta se revela por si mesma, não precisa de um psicanalista ou de um crítico. Possui sua própria linguagem. Entretanto, quem fala em escuta fala em contrariedade com a arte. Uma supõe a outra, ao menos em um sentido, o da escuta, porque a arte é livre para negar a escuta em nome de uma sã racionalidade. De que maneira a escuta expressa para ser entendida pelos outros? Será que com a escuta? É possível o estudo destas questões?
Encontramo-nos diante de uma estranha situação. Ao extremo, chocam-se dois mutismos: o do ouvinte e o do aurólogo (estudante ou crítico das escutas). De um lado, o ouvinte se cala por respeito à regra do arcano que quer ocultar aos de fora os segredos conhecidos por aqueles de dentro; de outro aquele que estuda a escuta se cala para que não venham até ele para obter as informações, as chaves, os códigos. Essa situação não tem nada de teórica ou caricatural. Ela ocorre freqüentemente e ressalta a diferença entre as duas distintas posturas de soar: de dentro e de fora. Em outras palavras, pode-se conciliar segredo e revelação? De que forma um discurso sobre a escuta não apaga, no curso de sua própria escrita, os sinais que pretende ler ou escrever, como o arqueólogo que esmaga com seus sapatos justamente o objeto frágil que está à procura? Sobre isto eu não posso falar. Ninguém sabe, é um mistério.
A CENSURA:
“É difícil encontrar leitura mais confusa e mais fastidiosa do que essas páginas repletas de elucubrações da imaginação gnóstica e que pareceriam a um leitor superficial terem sido escritas com o propósito de divulgar uma insanidade sistemática.”
Papa Urbano III sobre Pístis Sófia
Outra questão prévia constatada positivamente na execução de OvO: a da contestação não mais intelectual, mas física. Não mais a autoridade da arte ante os críticos, mas sua autorização junto aos políticos.
Aparentemente, a arte tem sido massacrada, amordaçada, difamada, ridicularizada, proscrita, anatematizada, perseguida, insultada, martirizada, deformada. Sua história social se acompanha de mutismos forçados, assim como seu desenvolvimento interior de silêncios consentidos. Constata-se uma espécie de conflito essencial entre sua existência e sua condição, ainda que se fundamente não mais filosófica mas socialmente. Se o racionalismo nega seu fundamento, isto é, sua razão, seu valor, até seu ser (teórico), forças ameaçam sua fundação, isto é, sua organização, sua função, até mesmo sua existência (sensível imanente). Mas que forças são essas e de que forma? Devemos nos conformar com esse fato?
Primeira disposição contra a arte: a repressão. Uma forma é a proibição, venha de onde vier. De ordem intelectual (as censuras), de ordem física (os monopólios dos espaços de convívio social e as más remunerações), de ordem social (a falta de uma legislação específica para o ato artístico), de ordem coletiva (as dificuldades financeiras).
Segunda disposição contra a arte: a difamação. As medidas de vexação sucedem as medidas vexatórias. Suas formas se denominam descrédito, calúnia, amálgama, marginalização, escárnio e desprezo. Age-se mais sobre a afetividade e, em geral, essa maneira de abordar, de difamar a arte parece mais rápida e mais eficaz. Mais rápida porque é veiculada pelas conversações, transmitida pelas revistas de arte, utilizada mesmo nos espetáculos de entretenimento. Mais eficaz porque impregna toda a cultura, ela se contenta em sugerir, de tal modo que se crê encontrar por si mesmo a inanidade da arte, e de que modo resistir a uma idéia que se pensa tê-la formado pessoalmente? Sem levar em conta que é lisonjeiro fazer-se de superior a Beethoven, zombar dos pitagóricos.
Terceira disposição contra a arte: a deturpação. Dessa vez a arte é desfeita, submetida à metamorfose em entretenimento ou utilidade acadêmica e industrial. Na impossibilidade de abatê-la, pode-se desnaturá-la. Há a falsificação acobertada pela compreensão. Pode-se assim interpretá-la, deformá-la, reconstruí-la, modernizá-la, traduzi-la. Descarte-se todos os aspectos sagrados e secretos da arte e já não há mais porquê negá-la, ou oprimi-la: não se fala mais na arte; o tratamento histórico ou técnico representa um modo de falar da arte como se ela não fosse arte. No caso da redução de seus aspectos artísticos, a arte é reconduzida ao entretenimento. No caso da recuperação, um fenômeno estritamente artístico termina por servir a ideologias, a interesses que lhe são totalmente estranhos, até mesmo contrários. Basta evocar as artes marciais como são atualmente conhecidas e praticadas, sem uma metafísica, sem prática meditativa, voltadas para a eficácia imediata, para a rentabilidade, dirigidas pela concorrência e pela competição. Assim fizeram C.G.Jung e os jungianos com a alquimia: a se acreditar neles teriam, enfim, decifrado o enigma, como se os alquimistas ignorassem seus próprios símbolos!
No entanto pouco adianta ativar o debate apresentando artistas como vítimas. Quase sempre, a arte é atingida de modo indireto. Condenam-se seus dogmas, seus ritos, suas produções não na sua estética mas pelos seus efeitos sociais, sua incidência doutrinal, sua origem pagã, etc. O que se constata, com efeito? A inquisição perseguia a heresia, a irreligião, a superstição, o erotismo... nunca a arte. A inquisição nunca acusa a arte, até porque desconhece o que é a arte em seu interior, só a conhece por fora.
E o problema se ampliou. Não se trata de questionar como a sociedade vê a arte, mas de que modo a arte se vê na sociedade. Os detentores do poder, do direito, do saber artístico podem proibir, desacreditar, deturpar a arte, é bem verdade. Mas pouco sabem sobre a arte. É mais interessante considerar de que modo a arte se situa antes de se considerar a maneira como a situam. Constata-se que o OvO toma lugar no museu sem se definir a ele, no entanto. Não pode ser considerado uma ideologia. O OvO se situa no que diz respeito a ele mesmo. Pretende-se uma tradição autônoma em relação a qualquer festival ou museu. Forma seus próprios planos de referência. Em último recurso, o OvO depende dele mesmo apenas, senão ele desaparece, modifica-se, ou não ressurge mais, morre.
OvO, pode-se dizer, é um fenômeno social sem ser um fenômeno cultural. Ele se situa no interior do museu mas no exterior de suas instituições (Zoneamento de Temporação Autônoma), mesmo as mais intelectuais ou espirituais. É irrefutável que tenha um aspecto social em vários níveis: jurídico, político, poético... No entanto, causa espanto que não seja um fenômeno cultural. Por cultura entenda-se, do ponto de vista do indivíduo, o conjunto de valores e conceitos, de comportamentos e de técnicas transmitidos por uma sociedade; do ponto de vista do grupo, entende-se por cultura a totalidade das aquisições sociais em matéria de regras de conduta, conhecimentos, métodos... OvO é demasiado estranho neste conjunto , sua censura o comprova. Os mistérios de Elêusis (primeiros rituais musicais da Grécia antiga) eram controlados pelo estado ateniense desde Sólon, portanto eminentemente sociais, não obstante se restringissem à esfera cultural na medida em que exigiam o silêncio e a nudez de seus participantes, passavam por uma experiência ‘mística’ e não diziam respeito à filosofia e à religião gregas a não ser acidentalmente.
Em primeiro lugar, quem diz cultura diz herança da civilização. Naturalmente, no OvO, há transmissão de conhecimentos, técnicas, objetos. Mas como? De modo algum pela via cultural, isto é, pela imitação e educação, de forma mais ou menos consciente. Todo ovo se vê original, natural, como um ressurgimento constante e autêntico de aspectos sutis das escutas presentes, da entrescuta destas e sua harmonia contextual composta. Não se trata de transmitir nem de inovar, como na cultura musical das vanguardas, mas de reativar os sentidos das escutas.
AGRADECIMENTOS:
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” – João Guimarães Rosa
Com tudo isto dito e esclarecido às partes que apreciam explicações, gostaria de agradecer a todos os envolvidos do evento OvO pela realização da obra e que tudo isto sirva de nutrição a nossas vidas e trabalhos, que possamos amar mais e enfrentar com força e empenho de nossas escutas as injustiças que surgirem à nossa frente.
Aos artistas envolvidos diretamente na produção do OvO, sem vocês eu seria só eu: Paulo Fávero (Luxcolorama e as tabelas de correlação sinérgicas), Daniel Fagundes (dança explosão do desejo), Julia Rocha (farinha, água, fermento), Juliana Dorneles (Baubo, Hotxuá), Pilantropov Filofenandes (mêtre fou), Kaloan Menoschite (gesto silencioso por natureza), Caterina Renaux Hering (tecelã de delicadezas), Juliana Rinaldi (generosidade do movimento), Priscila Blix (lab rindo), Eduzal Fernandes, Felipe Brait (estratégias de atuação), Pedro Soler, Daniel Costa (pela noção de metafinação espectral e outras magias), Martin Herraiz, Rafel Mendes, Danilo Barros (pode falar, sim, se precisar mesmo), Carlito Moreira, Tati Abitante, Danilo Tanq Rosa Choq, às Ghawazee (me enterrem de pé e com uma maçã na boca), Submidialogia, Metareciclagem, Orquestra Organismo, Movimento dos Sem-Satélites, Aldeias Pataxós, George Sander (intensividade cognitivante, Carla Bispo (olhar delicioso sobre fotorama) e todos os presentes que tenha me esquecido de lembrar enquanto escrevo .
A toda a produção e demais participantes do festival Conexões Sonoras: Mario Del Nunzio (o abraço mais gostoso da eletroacústica), Natacha Mauer (precisão e gentileza), Henrique Iwao, Alexandre Fenerich, Giuliano Obici (oráculo sonoro), Rodolfo Valente (carinho em conversas durante o processo todo), Luciana Ohira, Sérgio Bonilha, Lilian Campesato (pela racionalização curatorial), Valério Fiel da Costa (você disse que ia fazer e fez), J-P. Carón...
A todos os que não entraram na obra, porque não puderam, não quiseram ou precisaram.
A todos os funcionários públicos do MIS, seja de qual hierarquia ou administração, pelo cumprimento de suas funções em prol do público, e nada além disto.
“O sensível é um ovo. O chocamos ou dele nos alimentamos, Quando no limite, vida é energia.” –
Gravações da visita a Brasília para o Festival Fora do Eixo incluindo: triturador de notas, escolinha ao lado do lixão da estrutural, templos vazios, prédios públicos quase vazios, ruas desertas, gente de rua cantando e delirando, barulhos de aparelhos, montagem de exposição, piano proibido em centro cultural com teclas pixadas, oficinas de ópera, festanças, bicicleta, museu maçônico, estádio de futebol, cachoeira, botecos...
Sociofonia#11
}Trans tornos:
Bandeiras de Xiita {Coração Partido}
O que atravessa o centro rotátil do meio urbano fazendo cruzarem elementos fora do eixo em campos gravitacionais que não os seus usualmente.
Buscamos entender como ocorrem as sociedades de diversos modos de escuta, as cumplicidades de certos modos de vida que acarretam nos campos (a)composicionais dos "estilos musicais" por exemplo. Como as diferentes pessoas escutam e o que elas escutam?
Quais as finalidades dadas ao sonoro e ao musical na vida social metropolitana? Que aparelhos de rádio podemos reutilizar do lixo para tocar? Quem precisa ser ouvido e quem não quer ser ouvido?
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]Objetivos:
•Uma instalação sonora composta com todo o material recolhido durante o processo...
•Um mapa da cidade sonora...Três oficinas abrangendo o processo de captura, edição e difusão sonora...
•Uma série de jornadas sonoras gravadas em formato mp3 realizadas a partir destas oficinas, cartografadas no mapa para que pessoas possam fazer tais travessias pelo espaço urbano aumentado...
•Um libreto-mapa para rotas sonoras no walkmen digital
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)Processo:
Caminhadas gravando sons, recolhendo lixo, indo encontrar amigos que moram longe (se der já pedir pras pessoas que estiverem no festival que queiram fazer um som ou mostrar uma ilha de silêncio, seria ótimo conhecermos amigos dos amigos)
Criar uma maquete sonora da cidade audível durante todo o processo com caixas de som velhas sobre mapas alterados. Ouvir as pessoas na casa de residência, compor um disco com quem quiser. Cantar, por favor, cantemos. Criar rotas na maquete para atravessamento da cidade.
Fazer uma cartografia na cidade com uma primeira trajetória poética. Ouvir as pessoas na rua, no ministério da cultura, nos diferentes templos, nas festas. Um libreto-mapa para rotas sonoras no walkmen digital...Espécie de filme-cego ou ensaio sobre a surdez...
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Da Ópera à Próera:
Como a transmutação desenrolada do tom ao espectro através do processo dodecântico dos empilhamentos de notas e frequências (clusters) até a composição coletiva dos drones, os sistemas programáticos das musiações reapresentivas sofreram algumas mudanças dinâmicas e dramáticas, da atuação à interação interventiva, da representatividade sasonal ao ativismo em redes cotidianas na harmonia contextual. As vozes todas foram identificadas pelos softwares de síntese vocal.
hf=mc2
(n-f)=x grau de potência dos encontros.
Os códigos de intervenção política pelas distintas poiéticas de religares transmidiáticos. Da criptocracia à ruidopatia através da criptopatia corpóreo-social.
Espectro Sonoro e Campo Sensório Musical: Uma escuta de fato compassiva haveria de lidar com todos os modos de escuta (uma vida, uma escuta), e mais ainda: com todo o audível humano e suas limitações lógicas e sensíveis.
Toda nova ciência demanda uma nova linguagem. Toda nova linguagem surge avançada o bastante para se assemelhar ao código. Mudar o vento altera apenas algumas variáveis do som do sino eólico.
18, Trabalho Sobre o Que se Deteriorou.
Sinaefonia, Crepúsulo dos Tipos:
Mola, Molécula, Cidade.
Ondulação lisa onde se deslindam os cortes dos gestos programáticos, a senoide cognição fluidificou as notas e com isso também diluiu as fronteiras entre estilos (modos de composição aural).
A noite tipológica vê os campos gravitacionais de alhures sendo coordenados em suas flutuações pelas estelas-mídias. Sonátemas, tipos sinestésicos focados em escutas, conectam outras possibilidades de concatenáCào de sons e mesmo de dinamizações sonoras (ritmos em aritmos, a exemplo) gestando uma metamatemúsica, a auria.
Não sou eu quem me navega, quem me navega é senoide, a nevaga.
Três Tempos da Cera:
As linhas do horizonte fractal lembram a expansão da escuta.
Grãos, malhas e massas esculpem as intensidades ter-restres da escuta: danças sensíveis em prismas sinestésicos que gestam partituras-programas, relações entre entrescutas e ritos sacro-integrais de religação do laico com o profano.
Quais os maquineísmos organômicos da composição muséica?
Para que programa-partitura gestxs soantes como dança ritual e não seus resultados meramente sonoros de antemão.
Concerto Candango:
"Um idealismo prático reveste o calo à mão, apagar as contas é um gesto metafísico."
I.Réquiem para Samuel Rawet.
II.Cor ou Ação de Criyestoeal: Um cego (Artemiev) guia um povo ao meio do deserto e onde menos vegetação encontra, às vozes do povo ecoam-lhe 'Estamos Perdidos.' Desta perdição fizeram sua nação erguendo capital sobre um cristal. Coroação da cegueira política no coração do mundo.
III.Esplanada das Putas.
IV.Alvorada na Sacolândia.
V.Mendigo e Estudante no Santuário dos Pajés.
VI.Com Certos Candangos: Céu imóvel, gapão na zona, sis e temäsis, ura lupas e lâmpadas, a vertigem dos objetos, as empresas do corpo (laibach butoh), nós...
VII.
"Onde lidamos diretamente com as arbitrariedades de valorização e a virtualidade atualizada às prag-máticas, os prgnósticos e as pro-gramáticas da vida sob o aparelhamento capital."
As Brilia {cidade quântica dos encontros}
O Elefante de Marfim:
Madame Política, Médium
Mola, Molécula, Cidade. Quando o sapo pulo em meu joelho, me recordei da impansão ocorrida em Inhotim, quando do encontro com uma serpente e um corvo.
A próera seria um processo de enredamento afetivo que busca ampliar o uso e propiciar a reflexão crítico do objeto-estudo e do processo em seus entranhamentos a respeito do espaço-cárcere subjetivo, museu.
Através de uma pesquisa sobre as obras instaladas, propor intervenções que atravessam o espaço ex-positivo est-ruturando uma rede dinâmica de experiências sensoriais, e portanto, lógicas, sígnicas, típicas, icônicas, simbólicas, analógicas.
O Despertar dos Hackers:
Ready-Made inerente ao som do limpador de bosta
"O Caos não é sagrado e deve ser profanado com orgasmos." - Hakim Bey.
Uma conclamação ao uso ritualístico da tecnologia em reinsistência poiética ao tecnofetichismo.
Escrever uma carta sobre ministério e cultura e não entregar à ministra da cultura.
Executar uma série de intervenções na eslpanada dos mistérios:
I.Circundar o ministério da cultura soando ruído preparado com sons das periferias do país todo.
II.Propor uma programação para a madrugada (horário aberto e desocupado) com a história do ruído.
III.Escrever um poema intitulado "A Desconstituição do Brasil" e outro chamado "Un Coup de Pure Däat".
IV.Caso falhem estas tentativas, conversar sobre elas com pessoas nas ruas as mais distintas.
O neuropaganismo abriu as veias neurais, sangue elétrico. Quantas de qualias empreenderam a quimística dos elixires sobre as jaulas líquidas, livros de ética atirados sobre as delegacias. Aevolução tomou-nos pelas vísceras de nossa errologia dócio. Cada lutabor amargou o triunfo do fracasso no fashionfascismo. Alternação alterlegislante, causa-perdição da victorstoria. Retrotorno no etante de aidentidade (existentidade), singularidade contra-real em permavolução. Ditadura da arte, religião da ciência, um último suspiro da academia e seus vermes enquanto se entulham os livros, abrem os códigos em licensas poéticas de desatribuição, implantam os chips e queimam as últimas catracas, diplomas e currículos. Autopotlach ad continfinituum...
"Quem expor suas feridas, será curado. Quem não, adoecerá." Christoff Schlingensief ouve Ai Weiwei perdido na casa de Jonathan Meese.